Apoiei a cabeça na pedra e dormi.
Sonhei com os mortos construindo uma casa,
os ossos eram flautas e harpas ao vento.
A pedra pulsava em silêncio como uma alma.
18.
A morte entrou no sonho das crianças.
Tinha leite materno, cantava suavemente,
penteava as bonecas e os cachorrinhos empalhados.
As crianças choravam com um sorriso feliz.
19.
A água existe antes do homem.
A claridade da água é como o sol,
a areia e as pedras brilham no fundo.
Você pensa no suicídio, nesse espelho.
20.
No teatro da vida, a morte joga cartas.
Tem naipes de paus nos dedos ossudos,
olha com cobiça os teus ases de ouro.
De repente, o teu coração sangra ao sol.
21.Somos uma raça antiquíssima, sem face e sem nome.
Os grandes navios assolam-nos no mar do tempo.
As coisas nos limitam, nossa linha de giz.
Na praia indecisa plantamos nossa bandeira.
22.
Onde quer que estejamos, somos estrangeiros.
Qual é o nosso escudo? Qual destino é o nosso?
Ninguém entende nossas palavras, ou nosso Deus.
Somos o âmbar lançado à praia pelo mar.
23.Eu andei nas falésias do Beberibe,
deixei a marca dos meus pés na areia colorida.
De dentro das grutas gotejantes,
contemplei o céu azul de Deus.
24.
O meu olhar vazio, sem relíquias.
Sou um homem estúpido que perdeu o pai.
Secaram as árvores do meu pulmão,
as minhas palavras são pássaros de pedra.
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